Enquanto
ainda não sabem falar com desenvoltura, as crianças utilizam outros meios para
se expressar e para se comunicar. A mordida é uma delas. "As crianças na
idade oral ainda não verbalizam com fluência e a linguagem do corpo acaba sendo
mais eficaz", diz Rosana Ziemniak, coordenadora de Educação Infantil do
Colégio Magister, de São Paulo.
"Nessa fase em que as crianças ainda não
têm domínio da fala, as manifestações corporais são usadas para manifestar
descontentamento, alegria, descobertas", diz Marilene Proença , membro da
diretoria da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional
(Abrapee) e professora do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.
Rosana Ziemniak acrescenta: "O que a
criança deseja ao morder um amiguinho não é agredi-lo, mas sim obter de forma
rápida algum objeto ou chamar atenção". As mordidas, segundo Marilene
Proença, são usadas em situações diversas, e a criança vai avaliando quais os
efeitos que as mordidas têm: "A criança morde e depois vê o que acontece.
Por exemplo, se ao morder ela consegue o que quer, qual é a reação do
outro", comenta Marilene.
Segundo Rosana Ziemniak, coordenadora de Educação Infantil do Colégio
Magister, de São Paulo, a fase oral - assim denominada pelo pai da psicanálise,
Sigmund Freud - é uma etapa do desenvolvimento que vai do nascimento até por
volta de dois anos de idade. "Nessa fase, é comum vermos crianças dando
mordidas ao primeiro sinal de estresse. Este é um dos mais importantes e mais
primitivo estágio do desenvolvimento infantil, quando a criança ainda é
egocêntrica, ou seja, acredita que o mundo funciona e existe por sua
causa", explica Rosana. "Sendo assim em sua concepção, tudo que
deseja deve ser prontamente atendido e, quando isso não ocorre...nhac!",
diz a coordenadora, acrescentando que nessa idade as necessidades, percepções e
modos de expressão da criança estão concentradas na boca, lábios, língua e
outros órgãos relacionados com a zona oral.
As crianças não nascem sabendo dar mordidas, assim como não nascem
sabendo dar tapas ou puxar o cabelo. Quem ensina as crianças a morder, beliscar
ou a bater são os próprios adultos e as crianças mais velhas, conforme explica
Marilene Proença, membro da diretoria da Associação Brasileira de Psicologia
Escolar e Educacional (Abrapee) e professora do Instituto de Psicologia da
Universidade de São Paulo. "Essas ações se aprendem na relação com outras
crianças, com os adultos. Os adultos têm esse tipo de brincadeira, dizendo
"vou morder você, vou apertar sua bochechinha". A criança assiste a
essas formas de comunicação e a partir daí vai usando esses meios para se
comunicar também" diz Marilene.
Várias situações podem levar a criança a morder. "Em uma classe na
escola de educação infantil em que a professora está grávida, por exemplo, pode
haver um sentimento nas crianças de perda ou de abandono, em vista do bebê que
vai chegar. O mesmo em casa, se a mãe está grávida do irmãozinho", comenta
Marilene Proença, da Abrapee, Outras situações citadas por ela são a mudança de
sala na escola, a disputa por um brinquedo ou mesmo pela atenção de outras
pessoas.
Quando a criança morde outra pessoa, é importante a mediação de um
adulto, para fazer com que ela reflita sobre o que fez e para que entenda que
há outras maneiras de conseguir o que deseja. "O adulto deve mostrar à
criança que há outros meios de expressar-se ou de conseguir o que se quer.
Pode-se dizer, por exemplo: 'se você não gostou do que ele fez, vamos dizer
isso a ele', ou 'você quer o brinquedo? Então vamos pedir o brinquedo'",
diz Marilene Proença, membro da diretoria da Associação Brasileira de
Psicologia Escolar e Educacional (Abrapee) e professora do Instituto de
Psicologia da Universidade de São Paulo.
A especialista afirma que o adulto deve mostrar à criança que a linguagem é a
forma certa de se obter as coisas. "O papel do adulto é transformar a
atitude corporal em uma atitude mediada pela linguagem. Esse é um grande
objetivo da educação, tanto na escola quanto em casa", explica ela. Quando
esse ensinamento não é dado logo cedo, as crianças crescem e mantém as atitudes
corporais para conseguir o que querem. É o que se vê quando crianças mais
velhas se atiram no chão e fazem escândalo quando são contrariadas.
A mordida é sempre uma situação difícil para os pais de ambas as
crianças, diz Rosana Ziemniak, coordenadora de Educação Infantil do Colégio
Magister, de São Paulo. "Os pais da criança mordedora sentem-se
envergonhados e os pais da criança mordida ficam chateados pelo machucado do
filho. Cabe à escola mediar as relações entre as crianças e seus familiares
para minimizar os sentimentos negativos e criar situações para estabelecer
limites, mostrando a importância do respeito e do tratar bem o amigo que ficou
triste por ter sido machucado", diz Rosana. Ela acrescenta que tanto a
escola quanto os pais devem aproveitar essas situações para ensinar à criança
as regras de convivência.
Marilene Proença, da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional
(Abrapee), concorda e diz que os pais não devem aceitar a ocorrência da mordida
como uma coisa rotineira. "O ideal é procurar a coordenação da escola,
dizer que isso não pode acontecer e procurar entender o que houve para gerar
essa situação", comenta ela. Rosana Ziemniak acrescenta que a criança
mordida deve ser acolhida e incentivada a expressar seu descontentamento, porém
nunca deve ser incentivada a revidar, ou seja, a morder também.
"Apesar de, na maioria das vezes, a mordida fazer parte do
desenvolvimento natural da criança, em alguns casos, este comportamento pode
sinalizar um problema de ordem emocional", diz Rosana Ziemniak,
coordenadora de Educação Infantil do Colégio Magister, de São Paulo. "Se
estas mordidas passam a ser frequentes, a criança pode estar insatisfeita,
ansiosa, com sentimento de rejeição ou tentar chamar a atenção através da
agressividade. Quando isso acontece, a família e a escola precisam acompanhar
de perto e com atenção para descobrir as possíveis causas e dependendo do caso,
é importante buscar a ajuda de um psicólogo", explica ela, acrescentando,
porém, que os casos de ordem emocional não são em si a maioria.
Acesso em 03/09/2013
as 14:49